Mesmo evitando embate, ex-técnico revela conversa com Wallim sobre a queda precoce e afirma: 'Em todo lugar tem um X-9. Esse é o Flamengo'.
Quatro dias após ser demitido do comando do Flamengo, o técnico
Jorginho concedeu entrevista coletiva no escritório de seu empresário,
Claudio Guadagno, na manhã desta segunda-feira, e explicou detalhes
sobre sua saída depois de 14 jogos à frente da equipe. Com um semblante
que tinha a mistura de tranquilidade e frustração, Jorginho preferiu um
discurso polido, evitando críticas à diretoria e aos jogadores. Durante
cerca de 30 minutos, ele reconheceu alguns erros, rechaçou qualquer tipo
de racha entre comissão técnica e atletas, mas revelou sua insatisfação
com a não contratação de reforços de peso em conversa com o vice de
futebol Wallim Vasconcellos logo após saber que não fazia mais parte do
planejamento.
- Foi passada para mim toda essa situação financeira, o momento do
Flamengo. Poderíamos receber reforços de peso. Dos que chegaram
diretamente por mim, Moreno e Roger Carvalho. Os outros foram
observações feitas pela diretoria e aprovadas por mim. Paulinho, Diego,
Val, Bruninho, que não tivemos oportunidades de usar. Foi passado que
eles fariam todos os esforços por alguns nomes que eu havia sugerido.
Não vou citar, mas eram jogadores com passagens por time grande.
Conversei sobre isso com o Wallim, no momento em que estavam decidindo
minha saída, e disse que não era a proposta que me foi passada -
afirmou.
Com experiências como jogador e treinador, Jorginho reconheceu que
comandar uma equipe como o Flamengo é muito mais difícil do que apenas
vestir a camisa, entrar em campo e jogar. Um fator que o incomodou muito
foi a questão do vazamento de notícias dentro do vestiário. Em um dos
poucos momentos em que deu declarações mais duras, o técnico revelou que
há pessoas dentro do clube que gostam de relatar assuntos internos para
a imprensa.
Quando você é jogador, dá o seu melhor, mas não está preocupado com o
que vai acontecer depois. É muito diferente, a responsabilidade é muito
maior como treinador. O Flamengo é o tempo todo um turbilhão. Nada do
que a gente conversa internamente fica sem vazar para a imprensa. Em
todo lugar tem um X-9. Esse é o Flamengo, e a gente tem que conviver com
isso, aparando as arestas e tentando resolver os problemas - comentou.
Jorginho disse ainda que recebeu em dia enquanto esteve à frente do time e que a questão financeira nunca foi uma preocupação.
- Eu não tenho nenhuma preocupação com multa rescisória, não é por aí.
Claro que eu fiquei triste, mas fico com a minha postura. Nunca vou
deixar de ser um cara centrado, que trabalha com a verdade. Se eu não
consigo ter isso de volta, não é minha culpa. Fiz o que eu acredito,
porque esse clube em cinco anos contribuiu muito na minha vida, para ser
quem eu sou. Não seria por causa de dinheiro que eu deixaria de vir
para cá.
Questionado sobre o relacionamento com o grupo, o técnico foi
categórico ao afirmar que não havia qualquer tipo de problema e ainda
contou como foi o procedimento com Renato Abreu, após o meia ter
reclamando por ser substituído durante a partida com o Campinense pela
Copa do Brasil.
- Não tínhamos problemas, o ambiente era o melhor possível. Todo clube
tem seus problemas. Eu sou o tipo de homem e de liderança que procura
elogiar em público e criticar olho no olho. No caso do Renato Abreu,
falei muito com ele o quanto ele estava errado, e ele me pediu
desculpas. Uma coisa que eu escutei do Léo Moura, e que foi muito
interessante, foi quando ele me disse que jamais tinha visto os
jogadores que não jogam trabalharem como vinham trabalhando. A verdade
no futebol é que, se você vence, está tudo bem, mas se perde, nada
presta - declarou.
As dispensas de Ibson e Alex Silva também não ficaram sem resposta. Na
avaliação de Jorginho, a saída do volante se deu por questões técnicas e
financeiras, já a do zagueiro envolveu problemas com a torcida e uma
outra questão na qual não quis se aprofundar.
- Ele (Ibson) pode ter ficado chateado comigo, mas era um jogador caro,
podia abrir espaços para outros. Trouxemos quatro jogadores que ganham o
que ele ganhava. Quando não há uma resposta técnica, temos que tomar
uma decisão. Foi uma decisão técnica e financeira. Assim como o Alex.
Tentamos algumas vezes, mas a torcida tinha uma rixa com ele que não o
deixava jogar. Sei como é chegar para jogar e ser vaiado o jogo todo.
Mas é um jogador pelo qual tenho muito respeito, e algumas decisões que
ele tomou são uma situação que só ele sabe e não passou para ninguém -
afirmou Jorginho.
Maior contratação do ano no clube, Carlos Eduardo ficou mais como opção
no banco de reservas do que atuando como titular durante o tempo em que
Jorginho foi treinador. Isso ocorreu devido ao momento técnico do
camisa 20, que não correspondeu à altura.
- Nós (ele e Dunga) convocamos o Carlos Eduardo para a Seleção. É um
jogador que fez um ótimo trabalho no Grêmio e no Hoffenheim. Esse tempo
de um ano e meio parado o atrapalhou muito. Nós o deixamos trabalhar,
mas não me deu a resposta técnica - comentou.
Jorginho chegou ao clube para substituir o técnico Dorival Júnior,
demitido após a derrota para o Resende pela primeira rodada da Taça Rio
devido ao alto salário. Em 14 jogos à frente do clube, o treinador teve
uma campanha com sete vitórias, quatro empates e três derrotas.
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