Sessenta e um por cento dos freqüentadores de academia usam produtos para acelerar a queima de gordura e, ao mesmo tempo, ganhar músculos rapidamente. Se você está tentada a experimentar, leia antes esta reportagem e veja que, na maioria dos casos, não vale a pena.
Nas salas de ginástica, entre um aparelho e outro, sempre tem alguém puxando ferro ou suando na esteira com uma dose de suplemento alimentar do lado para consumir. Tudo para reduzir mais rápido a massa gorda e evidenciar a magra, com músculos fortes e definidos. Atenta a essa febre, a mestre em nutrição esportiva Márcia Daskal Hirschbruch (SP) fez uma pesquisa com 201 freqüentadores de academias paulistas e descobriu o seguinte: dos 61% que usam algum suplemento, 41% não receberam indicação especializada, 27,5% passaram a ingerir depois da sugestão de treinadores e somente 10% utilizam sob supervisão adequada de um nutricionista ou médico (de preferência formado em medicina esportiva) - os únicos profissionais capacitados para fazer a prescrição.
O estudo ainda apontou que os maiores consumidores são aqueles que fazem musculação, lutas, ginástica aeróbica e localizada, praticam exercícios há cerca de 12 meses e malham mais de 15 horas semanalmente. Mais: 39,84% consomem dois ou mais tipos diferentes de suplementação, 8% não sabem dizer qual a finalidade do produto que tomam e 48% são mulheres. Detalhe: elas preferem bebidas esportivas, vitaminas e minerais.
SUPLEMENTOS VALEM SÓ PARA ATLETAS DE ELITE QUE NÃO INGEREM ALIMENTOS SUFICIENTES para suprir as cerca de 3.000 calorias gastas todos os dias. Eles são desnecessários para 80% dos malhadores de academia
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PARA QUE SERVE
Antes de rotular os suplementos como grandes vilões, saiba que eles foram desenvolvidos para dar uma dose extra de nutrientes ao organismo de superatletas com o objetivo de melhorar a performance nas competições e nos treinos. "A indicação vale para os atletas de elite (profissionais) que não ingerem alimentos suficientes para suprir as cerca de 3.000 calorias gastas diariamente", analisa Márcia, que acredita que a suplementação é desnecessária para 80% dos malhadores de academia.
O mestre em educação física Fabio Saba (SP) conta que o consumo cresceu muito nos últimos anos entre praticantes de atividades físicas que não precisam desses acréscimos na dieta. E faz um alerta: "A literatura especializada mostra que não há evidências de que os suplementos fazem diferença no desempenho do exercício para esportistas recreativos que comem de forma adequada". E é aí que mora o perigo. Além de não trazer bons resultados, alguns produtos usados indevidamente ainda surtem efeitos colaterais. Suor excessivo, aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, insônia, alteração na percepção da dor e cansaço (que pode levar a lesões musculares) são os danos mais conhecidos.
"A cafeína, por exemplo, é bastante utilizada porque ajuda na redução da gordura, porém se a pessoa ingerir mais do que 250 mg por dia pode ter agitação, tremores, fadiga, diurese elevada e até dependência. Caso haja a interrupção do consumo há o risco de ter cefaléias severas, irritabilidade, agravamento dos sintomas da TPM e desconforto gástrico", descreve a especialista em nutrição esportiva Simone Maia Martins, da academia Cia. Athletica (RJ). A profissional acredita que a única forma segura e eficiente de ter um corpo magro e definido é combinar a prática regular de exercícios a uma dieta balanceada, que respeite seus horários, paladar e tipo de treinamento.
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USO RESTRITO
Há profissionais que prescrevem a suplementação alimentar, mas sempre com muito cuidado, como é o caso da nutricionista especializada em fisiologia do exercício Tânia Rodrigues, da RGNutri Consultoria Nutricional (SP). "Só recomendo depois de adequar a dieta do paciente. Assim é possível manter o rendimento com segurança, controlar o peso corporal e o ganho de massa muscular." A expert afirma que no mercado há uma variedade de produtos com funções específicas ao organismo, sendo divididas nas seguintes categorias:
ENERGÉTICOS
Repõem ou fornecem energia para o treino e são formulados com carboidrato. Costumam ser vendidos nas versões em pó, que devem ser misturadas à água; gel, que vêm num sache individual; e barra de cereais.
PROTÉICOS
Produzidos a partir da proteína encontrada no ovo (albumina), no leite ou na soja, são comercializados em pó ou barra.
COMPENSADORES
São pós elaborados com calorias, proteínas, vitaminas e minerais que devem ser diluídos em suco ou leite.
REPOSITORES
Aqui estão as bebidas esportivas, que têm o objetivo de repor rapidamente a água, os sais minerais e a glicose perdidos e, assim, evitar a desidratação provocada pela temperatura elevada ou por uma atividade intensa ou longa.
AMINOÁCIDOS
São partes que compõem a proteína. O Ministério da Saúde entende que altas dosagens não são seguras para o consumo.
Há lojas espalhadas por todo o país, inclusive dentro das academias, que liberam suplementos sem receita. OS PRODUTOS NÃO SE ENQUADRAM COMO REMÉDIO, POR ISSO TÊM A VENDA LIBERADA
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ALERTA VERMELHO
O grande problema da suplementação é a ingestão indiscriminada, que é estimulada pela promessa de se conquistar um corpo atlético sem muito esforço. Outro fator tentador é a venda facilitada: "Há lojas espalhadas por todo o país, inclusive dentro das academias, que disponibilizam a aquisição sem receita. O produto não se enquadra como medicamento, por isso tem a venda liberada", conta o preparador físico Carlos Cintra (SP).
O nutrólogo Mauro Fisberg (SP) teme que, ao não encontrar os resultados estéticos prometidos pelos fabricantes, as pessoas acabem sendo induzidas a escolher algo mais forte e proibido, como os anabolizantes. A pesquisa da nutricionista Márcia Daskal apontou que 11% dos entrevistados que ingeriam suplementos estavam dispostos a utilizar 'bombas'.
A lição que se deve tirar de tudo isso é uma só: não entre na onda da suplementação por influência de amigos. Procure um profissional para ver se você realmente precisa. E, na hora da compra, cheque a embalagem para ver se há registro do Ministério da Saúde.
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